O PECADO PETISTA.

                                


Parte I 
Com uma visão política à esquerda e uma história na base da sociedade, o Partido dos Trabalhadores fez bem o seu dever de casa, o que possibilitou seu avassalador crescimento. Desde o princípio o partido contou com quadros intelectuais invejáveis, se projetou ideologicamente, aperfeiçoou sua retórica, e utilizou muito bem seu vasto bolsão teórico, produzindo ideias coerentes, seduzindo os brasileiros didaticamente, demonstrando que era possível mudar para melhor pelos caminhos que o partido sugeria.  
O PT arrebatou milhares de seguidores, que extasiados viram no discurso socialista esperança, coerência, a garra juvenil para lutar por mais direitos, e por um período, o partido, para muitos, foi sinônimo de coerência, luta e esperança. Assim, preencheu uma lacuna importantíssima na história política brasileira, e no Brasil, e como o primeiro grande partido/movimento de massa, avançou rumo ao seu maior objetivo, que era eleger Lula para Presidência da República.  
Se auto proclamando tutor dos pobres, da liberdade política, do combate a corrupção, o estandarte da moral na política, por vários anos fez essa oposição de forma coerente, denunciando falcatruas na política brasileira, ganhou adesão dos brasileiros. Após um longo processo, como um partido já consolidado, na incapacidade de ser aquele PT que pregavam, sendo poder, tiveram que renovar-se. Muito por que o seu discurso não casava mais com o que o partido havia se transformado, e também por que o rótulo de socialista ficou ofuscado por suas práticas, e por que partidos dissidente como PSTU, PCO, e o mais expressivo deles, que teve maior importância nesse último período, o PSOL, passaram a fazer um discurso mais radical, reivindicando o posto de verdadeira esquerda (Fora outros partidos que compõem a esquerda, como PSB, PDT, que foram mais taxativos ao PT, nessa conjuntura que analiso, aqui). Na verdade, tradicionalmente os partidos de esquerda brigam entre nesse campo, o PT exerce hegemonia e tenta a todo custo impor seu capital político aos partidos menores, e vimos que no final, boa parte deles se encurvam aos caprichos petistas 
Sendo questionado na esquerda política, já fragilizado com grandiosos eventos de corrupção, como O Mensalão, o partido dos trabalhadores se reinventou. Continuou atendendo a grande massa com políticas assistencialistas, ampliando-as inclusive, mas, faltava algo. A emancipação política e civil das minorias passou rapidamente a fazer parte da agenda petista, após um período de construção da ideia. Dentre outras políticas que causaram alvoroço e reação contrária, embora silenciosa, da sociedade, a garantia e ampliação de direitos para os LGBTS+, dentro da política de reconhecimento e inclusão das minorias, foi um extraordinário passo, que minou silenciosamente na sociedade a atuação do PT. Junto com essas políticas de inclusão, Vieram a reboque (por que já faziam parte da alma dessa política), ainda com mais força, o combate a homofobia, o direito dos LGBTS+ de manifestarem afeto publicamente, maior divulgação e disseminação do feminismo, assim como a formalização de estereótipos, como: identidade de gênero, orientação sexual e expressão de gênero.  
Nesse contexto, pela garantia de direitos, houve uma afronta à parte da população. Partiremos da ideia de que a sociedade brasileira repousa desde o seu início sobre uma estrutura religiosa, historicamente machista e preconceituosa, valores esses que estão enraizados na mente e na história de vida de boa parte dos nossos cidadãos. Sendo assim, essa afronta se deu não por que o brasileiro é cruel e decidiu por si só perseguir, virar as costas e/ou negar o direito de liberdade ao cidadão que destoa do padrão imposto pela moral que domina, mas, por que a fé porto seguro, proteção e esperança para um futuro melhor e vida com Deus, os valores cristãos, a presença de Deus que é a única coisa que sobra ao religioso (e em alguns casos até para quem nega a fé), quando nada mais faz sentido em sua vida, foi afrontada, causando confusão em boa parte da população, causando crise, e agitação profunda, desnorteando o coração e a consciência.  
A população brasileira não foi minimamente preparada para incorporar ao seu pensamento, essas ideias. Temos uma república indiscutivelmente fundada sobre pensamento “aristocrata”, religioso e militar (que foram determinantes para consolidação da república), com forte exclusão de minorias (negros, mulheres). Inserir políticas que fogem agressivamente da nossa compreensão conservadora já arraigada em nossa moral e costumes, e isso pode soar irônico, poderia ter sido de forma mais respeitosa. Afirmo isso, não dizendo que os conservadores em sua totalidade mereçam incondicionalmente esse respeito, mas, por que, para que esse pensamento conquistasse espaço na sociedade, sábio seria se houvesse uma cautelosa introdução dessa discussão, com decoro, frisando sempre que é preciso respeitar algumas regras de conivência, para que todos possam viver harmoniosamente, embora tenham profundas diferenças. Vimos pedidos de tolerância, paz, e inclusão, casados a posturas indigestas, por parte dos que pediam reconhecimento. A política de minorias (incluo tudo o que conhecemos, como, políticas específicas para religiões de matizes africanas, comunidade LGBT+, principalmente essas duas, que causam hoje mais alvoroço), foi simplesmente jogada na cara da população.  
O Partido dos Trabalhadores, ao meu ver, não teve o zelo necessário, para que as minorias fossem vistas e reconhecidas pelo resto da população como dignos de direitos como os demais. Ativistas dessas políticas, se apoiando no respaldo do Governo constituído à época, passaram a defender e incentivar essas minorias, fazendo enfrentamento direto a população ignorando o que tradicionalmente acontecia. Passou a ser corriqueiro ver casais gays se beijando e trocando carinho no metrô, nas ruas, andando de mãos dadas por aí (Alguém aí se lembra como reagiu ao se deparar com essa situação?), algo que víamos raramente, ou quase nunca, mas que passaram rapidamente a fazer parte de nossos dias. Cada beijo gay que aparecia na TV, era um tabu quebrado. O problema não era ou é, o caráter informativo da coisa (se fosse), mas, o sensacionalismo exibido como troféu pelas grandes emissoras de TV e jornais. Então, muitos gays que se sentiram libertos a serem o que de fato eram, o fizeram. Só que agora publicamente, felizes com a sua situação político social, aliviados, por que alguém olhava por eles, livremente, deram início às suas expressões corporais públicas, gozando do que lhes é de direito. O problema, é que foram atiçados a confrontar os demais, a maioria. Acreditaram mesmo que poderiam mudar tudo assim, da noite para o dia? Afinal, sempre fomos conservadores.  
Nesse meio, a população reagia. Os que se manifestavam mais explicitamente, foram taxados de homofóbicos e machistas, inclusive, com certos exageros, principalmente por parte comunidade LGBTS+, especificamente as feministas, que inauguraram uma ofensiva ação contra esses que pensavam diferente, afrontando, tentando empurrar na cabeça das pessoas, que era necessário benéfico à população e que eram obrigados a aceitar (Isso não formaliza, aqui, por minha parte, a defesa ao machismo e homofobia). No parlamento, já haviam reações contrárias. Na câmara dos deputados, discussões acaloradas protagonizadas por Jean Willys PSOL, e Jair Bolsonaro à época do PP, estampavam as manchetes dos jornais, aquilo ali traduzia o conflito silencioso e angustiante que vivia a sociedade. A divisão moral teve princípio nesses eventos. Potencializados pela mídia, que estereotipavam ambos os lados em tom de piada, que consequentemente se traduziam em grotescos memes, nas redes sociais. Uma divisão cômica, cheia de graça, que não apenas veio e passou antre nous, mas que nos deixou marcas, não ainda aquelas necessárias ao amadurecimento, mas, que trouxeram dor, confusão, e união em tom revanchista.  
Políticas de minorias não devem ser encaradas como políticas socialistas/comunistas como se pensa aqui no Brasil. Olhem para Cuba, Venezuela, países que as minorias são perseguidas covardemente. Em contraste, olhem para os países que prezam ou prezaram por políticas sociais liberais, linha política que estima e fomenta direitos civis, e defende que os sejam estendidos a todos. Essa segunda experiência sim, tem mais a ver com o que as minorias brasileiras tem pretendido, e não a garantia de direitos que tem como cartão de visitas discussões e ações truculentas condicionadas a um viés ideológico. O Partido dos Trabalhadores, em uma em uma ação política que mais tinha a ver com sua história (Não pela veia socialista, mas, pela realidade brasileira de exclusão e segregação) teve mais facilidade em se permitir dialogar e abraçar, estrategicamente essas minorias. A centro-direita não dialogava efetivamente com esse nicho, e não se mostraram tão solícitos a sua causa, consequentemente não conseguiram seduzi-los e aumentar sua influência na sociedade. Caminho aberto para que a esquerda liderada pelo PT promovesse um discurso novo.  
Outras questões importantíssimas como economia e educação estavam a vento e popa, e paralelo a isso a resistência às minorias se transformava em uma besta pronta para devorar. Tal resistência tomou corpo não apenas pela afronta ao padrão, feito pelas minorias, mas, pela forma irresponsável que essas ideias foram vomitadas Não souberam reivindicar e adquirir direitos. Todo esse movimento causou um mal tremendo à sociedade, expôs as minorias, que foram usadas como manobra para e exploração de um novo nicho político, baseado em teorias científicas e reais problemas enfrentados por estes, no seio da sociedade. Causou ainda mais confusão, e minou brutalmente a possibilidade de compreensão ao problema das minorias, por parte dos mais conservadores, dos indiferentes, dos religiosos, e dos simples defensores da democracia. Quando se tem respaldo e estímulo por parte do governo, no que tange a garantia de direitos que envolvem questões morais, não se reivindica e pressiona como fazem ao reivindicar direitos trabalhistas, ao pressionar pela democratização e maior acesso aos meios comunicação, ou quando são contrários à privatizações, ou quando vão às ruas contra políticas de cunho ideológico que não seja o da esquerda.  
Não se afronta valores morais como afrontaram aqui. A ética que está diretamente ligada à liberdade de escolha, não pode ser posta de lado em nome de necessários direitos civis. Existe uma ordem moral em cada lar, em cada cidade, estado, e uma máxima que desenha nosso país. Esta ordem deve ser observada, a depender, preservada, contornada, na intenção de garantir-lhes o direito de ver seu ponto de vista moral em outras perspectivas, sem afronta, a fim de viabilizar a compreensão e consequentemente a possibilidade de implementação da nova ideia. Se tratando de religiões com visões antagônicas ou diferentes entre si, o risco de conflito se torna iminente, quando estes são irresponsavelmente incitados ao enfrentamento, em detrimento da harmonia e respeito. Temos visto isso na região da palestina, e inclusive em alguns casos aqui mesmo no Brasil, quando invadiram um centro espírita, e em nome de Jesus quebraram imagens que simbolizam entidades daquela religião. Não se trata de defender a maioria ou de beneficiar uma religião, no caso aqui, a Cristã, ou pensamento político em detrimento de outro, a questão aqui é respeito e bom senso. Não é passar a mão na cabeça de um machista homofóbico, como dizem, pedindo que releve o involuntário erro. É ter consciência de que uma minoria precisa de atenção e liberdade em uma democracia laica, que deve olhar por todos, e não a qualquer custo apenas pelos injustiçados, como nos foi sugerido pelo PT.  
Cristãos, e, generalizando, conservadores por criação/tradição, são maioria, no Brasil. Essa definição genérica é a que mais se aproxima do perfil da população brasileira, visão essa que nos permite analisar o movimento das massas, politicamente. A definição política para a população, sugerida de acordo com o sufrágio da última eleição presidencial: esquerda x direita, não nos dá segurança na analise. Não há compreensão teórica suficiente por parte da população brasileira que permita uma autodefinição assimilando vertentes políticas tradicionais. É uma parcela muito pequena que com embasamento teórico se auto define como liberal, ou socialista.  
Nos últimos três anos, no imbróglio do processo de impeachment, houve, principalmente nas redes sociais, campanhas contra o PT e contra qualquer ideia ligada à esquerda. O Partido dos Trabalhadores como referência na política esquerdista, atingido agora não apenas pelo mensalão, petrolão e outras falcatruas “menores”, mas, protagonizando o suposto maior escândalo de corrupção no Brasil, deflagrada pela operação a lava-jato, fez a cor vermelha e a política socialista/comunista, ficarem na berlinda. A bandeira vermelha e os demais símbolos da esquerda, para maior parte da população brasileira, se tornaram sinonimo de corrupção, afronta à fé e à família, ou seja, aos princípios conservadores, que se tornaram ainda mais fortes na sociedade brasileira depois deste último período de disputas política e eleitoral. 
Considerando essa notável crescente conservadora, não é de se espantar ao depararmos com a ascensão meteórica de Bolsonaro à Presidência da República, por que alguém teria que responder a esse anseio. Para alguém que não tem o hábito de analisar cenários políticos, fica maravilhado, arrebatado com a ascensão de Bolsonaro no cenário eleitoral, no período de pesquisas, durante a campanha. A aclamação nas ruas, com eleitores fazendo campanha por conta própria, pode-se relacionar ao movimento Lula, no início da década de 90, até a vitória. A diferença, foram as redes sociais, que encurtaram caminhos e impediu a massa bolsonarista de ocupar as ruas, disseminando suas ideias, como faziam os lulistas, que em importante parte, eram militantes de fato.  
O Presidente eleito Jair Bolsonaro, se pôs como defensor desses valores morais conservadores, fazendo frente à suposta investida profana, que segundo ele, estava incentivando jovens a se tornarem integrantes de uma das inúmeras vertentes dentro da comunidade, hoje formalizada como LGBTS+. Note que a própria sigla, já traduz um pouco da confusão que foi estabelecida na cabeça das pessoas, dificultando, por mais que quisessem assimilar, a reivindicação das minorias, que prosseguiam fortes em intervenções políticas nas ruas. Então Bolsonaro, no parlamento, passa a enfrentar copiosamente esse pensamento, chamando atenção da sociedade e tranquilizando o coração dos que se sentiam afrontados e ofendidos. Outros líderes políticos, principalmente religiosos, assimilaram, e imediatamente, negando a ideologia de gênero e outros desvios, cercaram e miraram o Partido dos Trabalhadores, expondo para à sociedade o responsável pela confusão e excessos de alguns. O Ministério Público, Polícia Federal, AGU, também se empenharam em oficialmente combater a corrupção moral e política, emparedando o PT e seus aliados, com investidas investida jamais vistas, contra a classe política. Em alguns momentos, tivemos sentimento de dois pesos e duas medidas, se tratando de alguns ícones políticos.  
A criminalização da classe política infelizmente caiu no senso comum, e como uma sessão de quimioterapia feita para matar o câncer, atingiu também bons políticos, que caíram na malha fina do senso comum radical, e encontraram a partir daí, resistência por parte da sociedade ao tentar se reaproximar. Os brasileiros trancafiaram-se em sua segurança moral e religiosa como último refúgio, a Canaã dos brasileiros ficou evidente, ela está dentro de cada um, e é facilmente ativada. O Fora PT tomou cara e motivo.  
Não mais era um movimento confuso e geral como aquele das manifestações de 2013, que expressou indignação com a classe política em geral. As políticas assistencialistas assim como a garantia e ampliação de direitos civis e políticos, não foram mais suficientes para aproximar o partido socialista da população. A crise e a afronta ao santuário moral da população brasileira agora já tinham cara, nome e cor.

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