Despedida
Eu
tinha uma obra que eu presava demais. E o autor dessa obra, um cronista, me
ajudou a encontrar morada na literatura. O Cronista me ajudou a sentir a beleza
de um breve instante paralisado em um texto aparentemente descartável, que em
um passado distante, foi publicado, e possivelmente passou despercebido em uma
das páginas do jornal que foi publicado.
Eu
tive duzentas dessas obras em um livro, o livro que eu tinha um carinho enorme,
o livro que direcionou minha carreira de produzir textos. O Adquiri com o
dinheiro do meu último salário há mais de um ano atrás, e agora, em uma fútil saída
com esse meu querido livro debaixo do braço, o esqueci em um balcão qualquer.
Ele ficou em algum lugar de Brasília. Aquelas crônicas que fizeram minha cabeça,
torço bastante para que faça a cabeça de outro, que inspire, e que faça de
outro amigo, amante das crônicas, admirador de Rubem Braga, e sensível à vida.
Nesse
momento, o meu amigo deve estar sentado à sombra de uma árvore, acariciando
aquelas páginas amareladas, ou viajando nos dias da segunda guerra mundial, na
Itália. Os dias tristes, reproduzidos em crônicas, certamente abrirá seus
olhos, para que as minúcias dos dias sejam percebidas e valorizadas. Não
procuro desesperadamente meu livro. Ele cumpriu com excelência sua missão em
minha vida. Em minha mente ficaram apenas as lembranças, os momentos em que o
abracei, em que acariciei suas páginas, fica em minha mente, o dia em que
empolgado eu li e reli por várias vezes uma mesma crônica, desbravando cada
linha, entregando minha vida à um acontecimento da década de mil novecentos e
quarenta, um momento cristalizado em uma rica crônica, um verdadeiro cristal.
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