Retroativo texto de creme, escrito com uma caneta roubada em uma velha folha de lixo.


Sexta-feira, vinte e oito de novembro de dois mil e quatorze, uma e trinta e quatro da madrugada, um silêncio adornado de melancolia e assombração invade a casa, e não há motivo para assombrar-se. Há dois dias eu sinto uma vontade imensa de escrever, há dois dias tenho sido omisso com minha vida literária. Faltava algo. Um instrumento que eu não tinha dependência alguma, dele, para produzir meus textos, mas que de repente, se tornou indispensável.

Se ao menos o motivo da carência de textos, nos últimos meses, fosse minha pífia criatividade, eu estaria tranquilo. Recorreria ao método que estou usando agora para produzir este.
Estou sem minha moderna máquina de escrever há meses, por um simples motivo: a época das vacas magras chegou com força, não foi por querer, e nem há possibilidade de ser, e mesmo assim há quem diga que eu usei a mim mesmo como boi de piranha. Isso não importa! Ontem de manhã, tive a oportunidade de adquirir o instrumento que faltava para produzir textos. Negligente, não adquiri, fiquei pensado, pensando por longos minutos, e não achei tão necessário desembolsar um real.
Acabei de chegar da lanchonete que estou fazendo uns bicos. Hoje, não teve muitas clientes bonitas entupindo suas artérias, mas lá mesmo, a inspiração me tomou fortemente e eu não resisti.
Enquanto cortava a polpa de morango para fazer o creme, fechei os olhos e imaginei o dia em que novamente abrirei minha moderna máquina de escrever, tirarei a flanelinha amarela do Armazém Paraíba e com muito amor pressionarei aquelas teclas mágicas, de forma ritmada e caprichosa, fazendo o que eu mais amo, que é materializar em texto, de forma simples, meus dias, e minha realidade; provocando a existência de um mundo privado na cabeça de cada leitor, um mundo privado de minha realidade idealizada por outro.
Como não pude fazer o que queria, naquele creme de morango depositei todo o meu amor pelo ato de produzir textos, açucarei-o com ternura, imaginando o dia q escreverei um texto pela ultima vez. Desejei que aquela bela mulher quando fosse beber o creme, sentisse como se fosse a ultima vez que estivesse se deliciando de um belo e único texto de morango.
No fim da tarde de quinta-feira, eu roubei o que necessitava para produzir um texto. Ao chegar em casa, já Sexta-feira, peguei uma velha folha que havia guardado dentro de um velho livro. E com muito gosto, concluí mais um texto, produzi este, em uma folha de lixo, pensando vagamente na pessoa amada que eu não sei quem é, e sem esquecer, que o fiz com uma caneta roubada.

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