Manhã do dia 15 de Agosto



Enquanto pedalo, observo os giros do pneu, sinto a brisa em meu corpo, assim como o calor e a secura, típica dessa época do ano. A subida é ingrime, sinto o peso da subida em minhas pernas, mas uso o subterfúgio de minha mente para burlar esse obstáculo. Os carros passam a uma velocidade incrível, ouço o barulho agressivo e voraz do atrito dos pneus no asfalto antigo e caroçudo, o calor me consome, e a brisa já não é mais suficiente para fazer com que minha subida seja menos dolorosa.
Ainda com o meu rosto dormente pelas rajadas de vento que me agrediu ali na descida, recordo a doce e perigosa velocidade, mas já olhava a subida. Na descida, cauteloso e medroso, temia que um pneu estourasse, ou que a corrente arrebentasse e consequentemente travasse a roda; se isso acontecesse, certamente não estaria aqui para contar esse breve momento.
Ainda não estou na metade da subida, ainda não estou tranquilo. Os giros do pneu embaralharam minhas vistas, o barulho agressivo dos motores tiram minha concentração. De longe, escuto uma buzina, se é para me alertar... Tanto faz, se foi para me assustar, obrigado, você conseguiu! mas concentrado estou, embora minha cabeça insista em equiparar e fazer relação dos meus pensamentos, com a melancólica subida.

Agora, o pedal não é mais melancólico, muito menos filosófico ou psicológico. Quero chegar ao meu destino. 
O pedal não está mais relacionado à força que fiz por alguns minutos... Sinto apenas meus pulmões inflarem. O pedal não é mais objeto do meu texto, eu nem queria escrever hoje, mas os giros do pneu me levaram para longe, para dentro, embaralharam minhas vistas, e sem sentir,  a subida já era fim.
É fim de manhã do dia 15 de Agosto, é fim de manhã do dia 15. O maior acontecimento, foi a reflexão sobre as duas rodas que giravam assim como o movimento incansável de minha mente, assim como esse giro que observava, assim como o giro que o mundo estava a dar naquele momento, assim como o fim do ciclo de vida para alguém, e como alguém naquele momento estava dizendo, amargurado e com profundo remorso, que a vida dá voltas.

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