No Canteiro do Eixo Monumental



Brasília, Dia 17, no pomar da avenida central eu estava. Ouvia o barulho dos carros, olhava no horizonte, e o ginásio Nilson Nelson, se confundia com o céu. Estava quente, porém, nublado, e o movimento rotineiro daquele pedaço da cidade fluía normalmente, mas a perspectiva que tinha do canteiro era diferente, Não é como olhar lá do Eixo Monumental quando se passa de carro, não é como olhar o pomar de Dona Luizinha, no Sítio Salgadinho.
A Terra daqui é vermelha, as árvores nativas tem casca grossa, algumas; duras, outras; parecem isopor. São de pequeno porte, algumas. Retorcidas, umas tem frutos que cheiram muito, o cheiro vai longe, cheiro doce, e agradável à narina dos mendigos. 
Os mendigos não querem saber desses frutos públicos espalhados por toda a cidade, em vinte anos, nunca vi um sequer, subir em uma dessas árvores para catar suas frutas, eu ainda não vi! Mas esses garotos são como nós, da cidade, já se tornaram urbanos, e são parte integrante da vida da cidade. Eles também querem comer frituras, massas, os sanduíches, os refrigerantes, assim como também já foram condicionados à vida nos centros urbanos. 
Esse pomar da avenida central tem cara de roça,  e por aqui não vemos colônias de mendigos debaixo das árvores curtindo preguiça e chupando mangas, comendo Jaca, que é de graça.
Acho que esses pomares, não foram planejados para os moradores de Brasília, que trabalham nas repartições públicas. Foram criados para os pobres, e para os trabalhadores braçais, para irem mastigando algo na sua volta pra casa, a pés, em uma leve caminhada de uns 10km de distância, contemplando os tucanos, araras, os sabiás... O plano seria: que os mendigos ficassem debaixo das árvores, em redes improvisadas, sossegados, fumando crack, maconha, cheirando "tinner" ou cola, mas, comendo frutas. O Plano era o seguinte: que os assalariados, se juntassem aos mendigos e fossem almoçar, juntos, em um grandioso banquete comunitário, onde os pobres irmãos se confraternizassem, em um grandioso culto ecumênico, se amassem e vivessem unidos nos forjados pomares urbanos. 
A verdade, é que são árvores, que estão ali para embelezar os vastos canteiros do centro, meramente estético, o urbanista Costa gosta de surpreender, Costa, encosta numa árvore qualquer, Costa se esconde por de trás de uma árvore numa tarde ensolarada, para mijar, olha pro céu e diz: Meu Deus, quanta fome!

Comentários

  1. Show! Continue assim meu conterrâneo, você vai longe em suas linhas e acaba me levando junto com você.

    ResponderExcluir
  2. TUDO A VER, POETA!http://www.portaldovoluntariado.df.gov.br/projetos/brasiliada---a-novela-de-brasilia
    Brasilíada - A Novela de Brasília
    Brasilíada, a novela de Brasília é uma produção audiovisual para TV e Redes Sociais que conta a história de personagens que vivenciaram a construção e consolidação da capital do Brasil em diversas fases, 1956/60, 1968, 1978,1994 e 2017. No capítulo 1 será contada a história de Paula e Bernardo, um casal proprietário de terras no local escolhido para se erguer a nova capital do Brasil. Envolvidos como agentes pioneiros na epopeia da construção de Brasília, onde nasce o filho Pedro, tais personagens desenvolverão trajetórias que mostrarão como pano de fundo o evento da mudança da capital pelo ângulo do interior, em contraponto à visão anti mudancista do litoral.
    Agência ECCom - Rede Comunitária de Comunicação

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Tecnologia e volatilidade. Um mundo aparentemente sem base, que nos obriga a descartar um dia que jamais existiu. E, pasmem. Isso dói.

A juventude brasileira tem todos os direitos que você possa imaginar!

O Crápula da ideologia de Quinta